BIOGRAFIA
Caraivana – “Ser feliz”
Caraíva é uma cidadezinha paradisíaca do Sul da Bahia que fica entre o rio, o mar e a reserva dos índios Pataxós. Ali eu vi uma das luas cheias mais bonitas da minha vida, em uma de minhas muitas idas para lá nos anos 80. Pois bem, há alguns anos, quando o baterista, compositor, cantor, flautista e cavaquinista Fábio Luna me contou que tinha um grupo de músicos de diversas regiões do país que se encontravam lá nas férias para tocar, fazer parcerias e, claro, curtir a vida, fiquei muito curioso. E o Caraivana não me decepcionou quando lançou seu primeiro CD, em 2009, repleto de regravações. Mas a magia de Caraíva sempre reserva algo especial. E o novo disco, totalmente autoral, tem o sabor de uma água de coco gelada na beira da praia, de um mergulho no mar profundo da nossa infância. "Ser feliz", nome do disco e da faixa de abertura, é absolutamente apropriado para essa turma que, antes de unidos pela música, são atados pelos nós de uma profunda amizade.
Samba, xote, choro compõem o repertório do disco e expõem as diversas referências não apenas regionais, mas também universais do grupo formado pelo já citado Fábio, pelo ótimo bandolinista brasiliense Dudu Maia, pelos irmãos paulistas Douglas (violão de 7) e Alexandre Lora (percussão), pelo violonista e vocalista Alex Souza, também de Brasília, e pelo percussionista e cantor nativo de Caraíva Juninho Billy Joe. O frescor e a simplicidade dos arranjos, a beleza das melodias e os achados poéticos repletos de belas imagens fazem deste disco um item obrigatório nas prateleiras de quem gosta da melhor música brasileira.
Já na faixa de abertura, um samba emocionante de Fabio e Alex, uma ode à felicidade, à vida: "Se eu pudesse escolher onde nascer e a que família pertencer, faria de novo/ Se eu pudesse estudar de novo no mesmo lugar e conhecer esses amigos, faria de novo". Uma pérola.
Mas a bela safra de sambas não para por aí. "Chora", outro de Alex, que também assina sozinho "Capricha na pimenta", tem uma aura popular sem o compromisso com os clichês do samba. É autoral no mais fino sentido da palavra. Tem identidade.
Fábio, que apesar de jovem integrou o Paratodos na época do forró universitário e já acompanhou como baterista, nomes como Sivuca e Zélia
Duncan, regrava duas canções do seu CD solo. As releituras fazem sentido em um disco de inéditas por serem dois sambas muito bem construídos e dentro do espírito do trabalho. "Muito obrigado" bem poderia ser um samba-enredo do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Caraíva, se este por acaso existisse. É o reconhecimento de que no final das contas viver é bom demais: "Muito obrigado, cada dia tá melhor/ Nós estamos com saúde/ E alegria de viver/ Vou pra vida com vontade/ Só nos resta agradecer". Já "Nunca me acostumo com a beleza do mar", é poesia pura desde o título, surgido de uma frase que Fabio falou para Dudu enquanto caminhavam pela imensidão de areia e mar que leva por um lado para Porto Seguro e Arraial D'Ajuda, por outro, para a Ponta do Corumbau.
Mas Fabio apresenta um samba totalmente inédito. "Tempo" é uma pancada na alma, é simplesmente um dos sambas mais bonitos que eu ouvi ultimamente. Em seu diálogo com o tempo, o compositor pede uma ajuda para encurtar a distância que o separa de um amor. Eu sempre gostei de um samba do Zé Kéti, "Em tempo", em que ele repete a palavra tempo cinco vezes em duas frases de forma genial. E Fabio vem e me aparece com uma construção poética repleta de estilo e que me comoveu da mesma forma. Tem levada de música de abertura de CD novo de Zeca Pagodinho. Destaque também para a levada percussiva de Alexandre Lora, que por sinal é um dos pontos altos do disco.
"Trinta e poucos anos", de Douglas, reafirma a informalidade, o descompromisso da turma e o quanto isso é banhado de sabedoria: "Mas na
verdade já faz 30 e poucos anos que eu estou aqui/ e ainda não aprendi como é que faz / pra sorrir sem chorar, pra gostar sem querer possuir/ pra sair por ai sem ter pressa ou porque de chegar".
Mas o repertório do Caraivana também é repleto de choros que flertam com o clássico e com o moderno, cheios de inventividade. E Dudu Maia, grande estudioso do choro e do seu instrumento, e que no primeiro disco do grupo brilhou em interpretações de clássicos do gênero, se apresenta como um talentoso compositor em "Saruê bengala", que merece lugar nas melhores rodas de chorões, "Cindoca" e no animado "Coré". Dudu também assina os choros "Liberta coronha", com Fábio, e "Hotel paraíso", com Alex. Douglas também faz sua incursão pelo gênero no "Choro pra jé" e fecha o disco com a instrumental "Teu amor pra sempre".
Já Juninho Billy Joe, que traz Caraíva literalmente no sangue, dá uma grande contribuição com "Neguinha da pele clara". Um xote lindo, amoroso, para se dançar na areia da praia, com gosto daquela cachaça purinha.
Seria injusto terminar esse texto sem citar o responsável por transformar um encontro informal nesse trabalho visceral. O produtor francês Daniel Vangarde tinha acabado de se mudar para Caraíva, em 2004, quando viu a turma levando um som numa padaria. Bem no estilo da rapaziada, marcou uma gravação para o verão seguinte. Tudo para dar errado? Não com ele. Fez a tal gravação, em 2005, mesmo ano que inaugurou o seu Bar do Porto, onde fica, segundo os músicos, “o melhor palco do mundo”. Ou seja: um francês foi parar em um paraíso no sul da Bahia, onde grandes músicos de vários lugares do país tinham encontro marcado, para apresentá-los ao Mundo. A história é, sem dúvida, muito especial!
João Pimentel
Caraivana
Sexteto surgido no litoral sul da Bahia, o grupo Caraivana reúne o virtuosismo e o vigor da musica genuinamente brasileira.
Formado por músicos donos de trajetórias particulares e de diversas regiões do país, o repertório do Caraivana transita com facilidade entre a sofisticação do chôro, a simplicidade e o calor do samba de raiz, xotes e baiões.
Desde o lançamento de seu primeiro cd com clássicos da nossa música em 2009, a banda vem defendendo e divulgando a musica brasileira de qualidade por todos os cantos do país e ao redor do mundo. Foi convidado pelo Comitê Olímpico Brasileiro para representar a cultura brasileira na Dinamarca, na ocasião da escolha do Rio de Janeiro como sede das olimpíadas de 2016.
O segundo cd entitulado " Ser Feliz" é o resultado de anos de convívio entre amigos e muito trabalho. Totalmente autoral, é um convite ao público a desfrutar desse variado cardápio musical brasileiro.
Caraivana é:
Douglas Lora- Violão de sete cordas
Douglas é um violonista raro. Tem a técnica apurada e a destreza de um violonista clássico, pois viaja o mundo com seu [link=http://www.brasilguitarduo.org]Brasil Guitar Duo[/link] ", e parece ter o dom de acompanhar uma boa canção. Se adequa ao ambiente de forma mágica, mostrando seu talento brilhantemente do Carnegie Hall à beira do Rio Caraíva. Já se apresentou ao lado de grandes nomes da música mundial como Yo Yo Ma, Paquito D'Rivera e Duo Assad.
Fabio Luna- Flauta, cavaco e voz
Fábio é músico desde que nasceu. Ao mesmo tempo que é virtuoso na flauta transversa, canta Cartola ou Chico Buarque acompanhado de seu cavaquinho com tamanha emoção. Participou da banda de Sivuca por 9 anos, acompanhou diversos artistas de Leny Andrade a Zélia Duncan, e além de ser compositor de mão cheia participa do grupo vocal mais tradicional do Brasil: Os Cariocas, cantando e tocando flauta e bateria, levando nossa bossa nova e mpb pros 4 cantos do mundo. Já lançou 3 cds autorais: Macunguê-ará (2003), instrumental que contou com a participação especial de grandes nomes da nossa música como Sivuca e Robertinho de Recife; Fabio Luna (2009) Um disco de sambas de sua autoria com participação de Paulão 7Cordas, Edu Neves, Marcos Esguleba entre outros bambas do samba; Presente, futuro e passado (2014) um disco de canções produzido por Fábio em seu Estúdio no Rio de Janeiro.
Alex Souza- Voz e Violão de 6 cordas
Alex é um intérprete diferenciado. Além de ter uma linda voz, ele é ator, formado na Universidade de Brasília. Além de ser músico de várias gerações em sua família, envolve o ouvinte como poucos cantores da atualidade. É diretor musical de diversos musicais e já recebeu diversos prêmios, dentre eles; melhor trilha sonora, melhor interprete e melhor composição. Em 2015 viajou pelo Brasil com o seu disco solo "Capricha na pimenta", passando por Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Bahia, com sucesso de público e crítica.
Alexandre Lora- Pandeiro
Alexandre transita facilmente entre os diferentes estilos da música popular brasileira, atuando como baterista e percussionista. Lora graduou-se em bateria na FAAM (Faculdade de Artes Alcântara Machado) no ano de 2002, estudou percussão erudita durante 3 anos na EMM (Escola Municipal de Música de São Paulo) e obteve Pos-Graduaçao em Musicologia e Educação Musical na Universidad Autónoma de Barcelona em 2009. Desde 2012 leciona percussão no Centrum Choro Workshop (Port Towsend-EUA) e tem se apresentado ao lado do Trio Brasileiro nas principais cidades dos EUA. Alexandre já esteve ao lado de músicos como Anat Cohen, Martin Fondse, Jovino Santos Neto, Ramón Valle, Mariana Aydar, Brasil Guitar Duo e Ney Rosauro.
Juninho Billy Joe- percussão
Juninho é nascido e criado em uma vila paradisíaca do sul da Bahia: Caraíva. Cresceu tocando percussão e absorvendo sotaques e a música de todos os lugares do mundo. É um intérprete vigoroso tanto no samba como em xotes e baiões. Participa do trio de forró Triângulo Caraíva como cantor, percussionista e compositor, com quem passou algumas temporadas na Europa mostrando nossa riquíssima cultura nordestina por lá. Já esteve no palco ao lado de vários cantores, bandas e trios de forró como Trio Araripe, Trio Virgulino, Dominguinhos, Trio Xamego, Trio Sabiá, Trio Nordestinho, Trio